O Teste do Fizz Limão

Agosto 25, 2011 by

 

 

Aqui há uns dias, vinha a chegar a Palmela ao final da tarde com a minha senhora, eis senão quando me diz ela: “está mesmo a apetecer-me um Fizz Limão”. Ora eu, com a convicção de que não se deve contrariar uma grávida de 38 semanas, entro por Palmela afora, decidido a comprar um Fizz Limão, achando que era tarefa fácil. Foi mais ou menos.

 Primeira paragem, Retiro Azul:”Uma Frize Limão?”, e eu:”Não, um Fizz Limão”. Após uma consulta breve ao catrapázio dos gelados: “Desses não temos.”. Seguimos rua acima. Nem parei no bar junto à farmácia velha, achei que nem valia a pena, por isso a seguinte paragem foi o Serafim. Mais uma vez confundido com a Frize Limão, nada de Fizz: “é pá, desses não há”. Maravilha. Seguindo pela rua acima, não parei no café do duque porque não tinha estacionamento, por isso quando cheguei ao largo da Câmara, estacionei o carro em cima da passadeira (mesmo à Palmelão) e num saltinho entrei no Manaites, envolto na semiobscuridade. Também não me safei: “Não temos gelados”. Continuei a subir, parei no Chateâu e aí sim, o João lá me arranjou dois Fizzes Limão, frescos e verdolengos, que saciaram os desejos de uma grávida e de um guloso, sentados na esplanada de madeira virada para a igreja. Estar ali sentado, ao final da tarde, na rua, à sombra e a comer gelados vendo passar vários carros alugados com camones, fez-me concluir que Palmela não passa no teste do Fizz. Apesar dos inúmeros cafés e bares de Palmela (e havemos de voltar a este assunto), o serviço prestado é, a meu ver, desajustado, pelas seguintes razões: 

  • Aquilo que os cafés e bares têm para oferecer de comida e bebida é fraquinho (veja-se o teste do Fizz)
  • Os horários de funcionamento não se ajustam nem aos turistas, nem aos locais (veja-se o caso da Casa Mãe da Rota dos Vinhos, fechada às 19:00 no Verão)
  • Com tanta coisa para encher o olho em Palmela, poucos são os cafés com esplanadas para se desfrutar do ar livre e das vistas

Vigaristas Tentam Extorquir-me Dinheiro

Agosto 22, 2011 by

Esta vida ensina-nos tudo, de bom e mau. Nem tenho mais palavras para acrescentar substância ao que aconteceu, deixo-vos aqui um excerto da participação que fiz na Polícia Judiciária.

Dia 8 de Julho de 2011, sexta-feira – o meu cão desapareceu de Azeitão.

Dia 11 de Julho de 2011, segunda-feira – após buscas nas redondezas, decido accionar as seguintes medidas relativamente ao desaparecimento do meu cão:

  • Informar as bases de dados de animais desaparecidos SICAFE (Sistema de Identificação de Canídeos e Felinos) e SIRA (Sistema de Identificação e Rastreamento Animal) sobre o desaparecimento do Lobito
  • Registar o desaparecimento no site http://www.encontra-me.org/; o anúncio está em http://www.encontra-me.org/anuncio/15604
  • Difusão do desaparecimento para familiares e amigos através de correios electrónicos, SMS, redes sociais (Facebook) e impressão de cartazes espalhados num raio de 20 km.
  • Visitas aos canis do concelho de Palmela, Setúbal e Seixal no sentido de verificar que cães foram recolhidos neste período
  • Visita às instalações da Brisa em Coina, de forma a verificar que cães foram recolhidos na auto-estrada A2.

Dia 20 de Julho de 2011, quarta-feira – Marcação de anúncio publicitando o desaparecimento do Lobito e oferecendo recompensa no jornal Correio da Manhã e no jornal Ocasião.

Dia 22 de Julho de 2011, sexta-feira – publicação do anúncio no jornal Correio da Manhã, e recebimento de várias chamadas com informações sobre cães semelhantes ao Lobito. Uma destas chamadas (967 839 514) foi feita por uma senhora que intitulava D. Maria, e que informava que o seu marido tinha visto no jornal um cão parecido ao que ela viu na casa do seu patrão, Dr. Abreu, na zona de Azeitão. Deu-nos o número de telemóvel do patrão, para quem deveríamos ligar sem dizer que tinha sido ela a informar, visto que poderia perder o emprego. Além disso deveríamos ligar à hora de almoço devido à indisponibilidade do patrão durante a manhã (estaria a dar consultas) e antes do final da tarde, pois iria de férias para os Açores nesse mesmo dia às 20:30 e não voltaria antes de 15 de Agosto. Num primeiro telefonema (910 832 082) eu identifiquei-me e perguntei pelo cão, explicando o porquê das minhas perguntas; o senhor disse que tinha recolhido um cão que encaixava com a descrição, mas que precisava de falar com a mulher. Num segundo telefonema, informou-me que se eu queria o cão deveria pagar 120€ pelas despesas incorridas (alimentação, veterinário, casota). Qualquer sugestão feita por mim de forma a poder confirmar se era de facto o meu (deslocar-me à sua casa, a empregada mostrar-nos o cão, mandar-me um mail ou SMS com uma fotografia do cão em questão) foi negada, sendo que a única possibilidade seria eu deslocar-me ao “hospital da Amadora” para ver uma fotografia do cão em questão no telemóvel do senhor; deveria chamar procurar na recepção pelo “Dr. Abreu, do coração”. Durante a tarde deste dia desloquei-me ao hospital Amadora-Sintra, estive no departamento de cardiologia, nas urgências, comprovei que trabalha aí um Dr. Abreu, director do serviço de cardiologia, mas que este não se encontrava à tarde no hospital. Liguei muitas vezes para o número do senhor, sem nunca ser atendido, pelo que me desloquei ao aeroporto de Lisboa por volta das 20:00 de forma a poder encontrar-me com ele antes de ir de férias. Pude comprovar no aeroporto que o último voo para os Açores tinha saído por volta das 19:00. O telemóvel do senhor esteve ligado até às 21:00, hora da minha última chamada nesse dia.

Dia 23 de Julho, sábado – A D. Maria contacta-nos de manhã, dizendo que o patrão não lhe tinha dito nada e que deveríamos ligar para ele para acertar os pormenores de entrega do cão. Após este telefonema liguei novamente ao senhor, que explicou que saiu tarde do hospital porque “estava na sala de operações nas urgências numa operação complicada”. Disse-me que se eu fosse uma pessoa de confiança, deveria fazer uma transferência bancária para um NIB que me iria disponibilizar, e que de seguida ele daria ordem à empregada (D. Maria) para me levar o cão. Neste momento eu informei o senhor que sabia que toda esta situação era uma burla, que o iria denunciar à Polícia Judiciária e terminei a chamada.

Questões que me levantaram desconfiança na burla:

  • O saber de antemão, através do site http://www.encontra-me.org/, de outros testemunhos e chamadas de atenção para burlas tentadas com as pessoas que tentam encontrar o seu animal de estimação, aproveitando-se da vulnerabilidade destas pessoas;
  • O sotaque cerrado do norte do “Dr. Abreu”, e a forma pouco profissional como se referia ao seu trabalho: doutor do coração em vez de cardiologista, “procure por mim na entrada”, “estava na sala de operações das urgências numa operação complicada”;
  • A indisponibilidade para me mostrar o cão e um discurso dissonante da maioria das pessoas que têm e gostam de animais. Após um mês em que contactei com muita gente é possível perceber através do discurso o tipo de relação que as pessoas têm com os animais de estimação e a forma desinteressada como a maioria tenta ajudar;
  • Não existem voos do aeroporto de Lisboa para os Açores à sexta-feira às 20:00;
  • Após muitos contactos e pedidos de informação feitos por mim não foi encontrado nenhum Dr. Abreu a morar em Galeotas, Azeitão;
  • Existe de facto um Dr. Farto Abreu, director de cardiologia no hospital Amadora-Sintra, com um consultório na Parede e trabalhando também no hospital CUF Descobertas (todas estas informações foram recolhidas através de pesquisas na internet, onde existem inclusivamente fotografias do Dr. Abreu). Não é provável (apesar de possível) que uma pessoa com este perfil de vida profissional more em Azeitão;
  • A história relatada pela “D. Maria” só foi confirmada pelo “Dr. Abreu” e vice-versa, não sendo encontradas pessoas ou fontes de informação independentes que pudesse corroborar testemunhos ou intenções;
  • Os números de telemóvel acima referidos e, que abaixo volto a listar, estão sempre desligados, e nunca devolvem as mensagens ou chamadas:
    • “Dr. Abreu”: 910 832 082
    • “D. Maria”: 967 839 514
    • Esta tentativa de burla já foi reportada por outras pessoas no site http://www.encontra-me.org/ e na Polícia Judiciária.

Lobito

Julho 14, 2011 by

Vai fazer amanhã uma semana que o Lobito desapareceu. Cão malvado e resiliente, tanto fez e desfez que se conseguiu livrar do mosquetão grilheta, saltou o muro da casa de Azeitão e fugiu. Anda por aí, com uma coleira vermelha, não sabemos se atrás de cadelas, no meio de outros cães, ou com um destino menos alegre.

Já muita coisa me passou pela cabeça, de passado, presente e futuro. O Lobito sempre esteve comigo, desde o nascimento da minha filha, o crescer connosco, o obedecer à Leonor de três anos, o ser tratado como parte da família. Ser o filho mais velho. No presente, fazia sempre parte do futuro; sabíamos da sua gulosice, há meses que antecipávamos com deleite a reacção depois do nascimento do Migalhinhas; contávamos com precisão e deleite a quantidade de milímetros entre a sua boca e as colheres de papa que o Migalhinhas vai comer, juntamente com o seu bafo de cão rafeiro.

No meio disto tudo, veio-me à memória a estória do elefante de circo. Bicho agrilhoado desde cria, desiste de lutar contra a corrente que o prende. Por isso o vemos nos espectáculos de circo, preso por uma pequena lingueta de ferro, que desistiu de contrariar, conformado com a sua sorte.

Porque me lembro do Lobito? O meu cão tem nove anos, é um cão privilegiado na comida, no veterinário, no amor que lhe damos. Mas isso não lhe chega, ele tem uma natureza livre que o impele, dia após dia, para o espaço livre, com todos os riscos que isso acarreta. E todos os dias tentou, muitos conseguiu, andar com um sorriso no focinho que lhe conhecíamos bem, por esses campos fora, muitas vezes a fazer disparates.

Mesmo ausente, o meu cão continua a ensinar-me coisas; já o usei como referência no meu trabalho, na minha vida pessoal, nas piadas para quebrar gelo, em ensinamentos de vida. E esta loucura do Lobito, de procurar a liberdade, largar tudo para trás porque lhe está no sangue, diz-me muito. Abre-me os olhos, sobre a chama interior, o dia-a-dia, a nossa acção contra o desgaste de correntes, grilhetas, limites. O Lobito, com a sua fuga, pulveriza prioridades, agendas, o politicamente correcto, o que “é melhor para nós”. Não é a loucura que valorizo no meu cão, mas sim a sua capacidade de se superar, de tentar sempre.

Sinto falta do meu cão.

 

Importante: mais detalhes sobre o desaparecimento do Lobito estão em http://www.encontra-me.org/anuncio/15604

Qualquer informação é bem-vinda, recebida pelo site atrás referido, por este blogue ou directamente comigo. Obrigado.

Féta!

Setembro 4, 2009 by

 Vindimas

Ora aqui está, começada na passada quarta-feira, a festa mai linda, mai bonita e mai importante de todo Portugal. E arredores, claro está.

Queria fazer um acompanhamento mais frequente e continuado da edição deste ano das Festas Das Vindimas, mas não vai dar; agora há um bocadinho, falemos da festa.

Quarta-feira estava morna; a Rita dos sapatos vermelhos tinha assistência, mas não estava cheio. Eu meço o sucesso dos espectáculos pela espessura de pessoas no meio da rua entre o S. João e o Cinema; na quarta-feira circulava-se bem, por isso estava assim-assim.

Gostei da malta do Jazz que estava no palco da CCA; as covers que tocaram tinham uma roupagem cool adequada para acompanhar com uma conversa e um moscatel.

Ontem os Deolinda já deram outra cor à festa; o IEPESJEOC (Índice Espessura de Pessoas Entre o S. João e o Cinema) já estava de acordo com os valores nominais destes dias. Com aquela vozinha delicada, entre cantigas e estórias, a Maria Bacalhau animou a malta.

 Provas deste ano: poucas. Só provei o moscatel roxo do Mário Lobo. Gostei do moscatel e das fotografias com uma jovem (com aspecto muito saudável) que aparece nas garrafas dele.

Andei também a provar uns vinhos tintos, uns três ou quatro. Do que me passou pelo estreito até agora, destaco o JP Private Selection, cor de rubi, encorpado e muito bom. Espero meter o nariz em mais copos de tintol.

Ontem, para evitar chatices, e já que jantei no Pérola da Serra, meti uma amiga minha (com morada no centro de Palmela) ao volante do Balholhasmobile, para passarmos pelo “road-block” da GNR no chafariz. Como resposta ao “ah e tal, o carro de trás é duns amigos, eu tenho garagem, eles podem passar”, ouvi muito divertido um agente dizer “minha senhora, nem imagina a quantidade de gente que por aqui passa que é de Palmela e que tem garagem”….

 Juventude palmeloa, este ano na festa andem sempre de cueca lavada e sapato engraxado! Lembrem-se que estamos em período eleitoral e que além de privarem com os palmelões apoiantes dos diversos partidos, poderão ter de enfrentar um ou mais candidatos à procura de um passou-bem ou beijinho! Eu ando sempre com o meu gel anti Gripe A no bolso!

Nós somos o que vivemos.

Junho 29, 2009 by

Hoje de manhã estive no funeral do Facas. Ou melhor, fui ao funeral do Facas; isto sou eu a combater a ideia geral de que quando vamos ao funeral de alguém é para nos despedirmos dele, o que me parece naturalmente uma estupidez.

 

Eu conheci o Facas, Luís Pedro de seu nome, nos meus tempos de estudante universitário e tuno; não fazíamos parte da mesma escola, e muito menos da mesma tuna; o destino juntou-nos quando um amigo comum quis fazer uma estudantina em Setúbal (uma espécie de tuna all stars de Setúbal) e, ao mesmo tempo eu catrapiscava uma rapariga da Universidade Moderna, sua colega.

 

Cheguei ao velório trajado, por acordo comum de quem foi e é tuno; muita gente, novos e velhos, mas poucos tunos trajados; confesso que não estava muito à vontade, sentia-me mesmo desconfortável a regressar ao meu eu de há quinze anos atrás. Conhecia pouca gente e sentia muitos olhos em cima de mim. No entanto, depois de abraçar a mulher do Facas e de reconhecer uma caras conhecidas que não via há mais de dez anos, passei gradualmente do estado de envergonhado ao estado de revivalista.

 

O Facas é uma daquelas pessoas que nos filmes é definida como “larger than life”. Toda a gente o conhecia, grande e com uma voz grossa. Eu defino-o com dois adjectivos: feio (“feio não, mal encavado”, como ele diria) e cortês. Nunca o vi perder a compostura ou a cabeça com nada; qualquer situação, por mais obtusa que fosse, era arrematada com comentário certeiro, às vezes mais castiço, às vezes mais irónico, aliviando ambientes pesados, ou dando graça a pormenores que passariam despercebidos. O seu “então não se bebe nada por aqui?” era famoso.

 

Gostei muito de rever todas as pessoas, e de circular no meio delas, procurando reconhecê-las, perceber que algumas não me conheciam nem eu a elas, e ver quem faltou. Muita gente que não esteve foi recordada, outros estavam, mais gordos, mais grisalhos, elas bonitas ou mais estragadas. Não ouvi muita daquela conversa de circunstância “era amigo do seu amigo”, “Só nos juntamos para as tristezas, nunca para as alegrias”; toda a gente parecia saber o que estava ali a fazer, e sentia que era importante estar ali, não para se despedir do Facas, mas para celebrá-lo e recordá-lo, na sua vida e nas suas estórias.

 

O Facas era um homem de estórias. Sabia contá-las e vivê-las. Toda a gente sabe estórias do Facas e toda a gente tem estórias com o Facas, muitas. Lembro-me de ir a uma farmácia com ele comprar vaselina (que íamos oferecer como prenda a um aniversariante) e do ar castiço com que ele, depois do farmacêutico perguntar se a queríamos líquida ou sólida, se vira para mim e diz: “tu é que sabes o que te custa menos”. Ou num restaurante chinês, quando o empregado lhe pergunta se ele quer a sangria com Martini ele replica “ó amigo, faça como se a sangria fosse para si”. Ou dos comentários sobre os nossos dotes musicais; ele dizia sempre que eu tinha voz de cantora de cabaret dos anos vinte.

 

O funeral começou tarde, mas ninguém deu pelo atraso. Muitos abraços e beijos foram dados, muitas estórias, com e sem ele foram contadas, muitas vidas foram recontadas desde os últimos dez, quinze anos. O Facas aparecia na conversa sempre como participante, nunca como defunto. As causas da sua morte, apesar de explicadas, foram unanimemente aceites, como se fosse uma fatalidade, algo que tinha que acontecer. Não ouvi ninguém perguntar se se poderia ter feito mais, ou diferente. Não vi ninguém revoltado com a forma violenta e prematura de morte que o levou. Não consigo explicar isto, era como se ele andasse no meio de nós, com aquele sorriso de “boca linda” que tinha.

 

Além de bom vivant, o Facas conhecia a tradição académica. Sabia os preceitos, as tradições e, muito mais importante, o que se tocava nas tunas. Era um músico multifacetado, com bom ouvido e pé ligeiro. Era um prazer tocar com ele, porque por mais que se aldrabassem as músicas, improvisasse (lembro-me de um louco ensaio/jam session na casinha que albergava a Tuna da Moderna, antes das obras no edifício principal), ele apanhava tudo, seguia atrás de quem desse o tom ou puxasse uma desgarrada. Independentemente do vinho tinto que bebia (“ó minha senhora, branco é lá vinho?”) era a base, instrumental ou melódica, sempre que necessário. Lembro-me da actuação da estudantina na semana académica de Setúbal de 1997. Lembro-me das Festas das Vindimas desse mesmo ano, onde se preparou uma marcha de Palmela para tuna, juntámos toda a gente num ensaio regado a garrafinhas pequeninas de Moscatel e a Teresa Papa cantou connosco no largo S. João. Estar com o Facas não era só sinónimo de copos e boa disposição, era tirar prazer e satisfação de tocarmos juntos.

 

Durante a cerimónia , não vi muita gente a chorar. Alguns choros abafados quando o caixão desceu à terra, mas o que mais havia era gente com cara determinada, olhos vermelhos, como se soubesse que tinha de estar ali, à espera. Acompanhando. Foi reconfortante chegar ao pé da Betty, e recordarmos com um sorriso uma viagem de carro que tínhamos feito os três, sem palavras vazias de circunstância; foi talvez o momento mais marcante para mim de toda a cerimónia. Quando saímos do cemitério, entrámos no primeiro café, pedimos uns jarros de vinho tinto, carne de porco frita e estivemos ali, a brindar e a comer, recordando estórias, rindo muito. Celebrámos, recordámos, revivemos.

 

Conheci o Facas numa das fases da minha vida que mais apreciei, que mais vivi intensamente. Éramos novos, confiantes, bem-humorados e vivemos momentos extraordinários. Juntos bebemos (muitos) copos, e discorremos sobre a vida, ou assuntos triviais (“sabes qual é a diferença entre estrume e churume?”). Não fui seu amigo íntimo, mas essa era uma das suas principais qualidades; as pessoas gravitavam à sua volta, atraídas pela sua bonomia, pela sua boa onda. Nada, nenhuma das suas memórias se desvanece com o seu desaparecimento; são estórias para contar à minha filha, quando lhe vir nos olhos o brilho que eu tinha nos meus nessa altura da vida. Mas quem partiu, deixa nos corações de quem fica mais do que o vazio das estórias. O Facas vai fazer-nos muita falta.

Festa do Queijo, Pão e Vinho

Abril 6, 2009 by
Pois é... do meu leite também se faz o queijo!

Pois é... do meu leite também se faz o queijo!

Queijo, pão e vinho

Cão que é cão fareja à distância a boa da iguaria!…

Assim aconteceu, no passado sábado tive uma vez mais a oportunidade de me deliciar com as iguarias da região na Festa do Queijo, Pão e Vinho. Esta festa comemorou o seu 14º Aniversário e se a memória não me atraiçoa terei participado pela 12ª vez nesta celebração que todos os anos me parece ter mais visitantes.

Apesar das críticas ainda presentes das gentes da Quinta do Anjo à deslocalização desta festa do centro da sua terra para S. Gonçalo, deve-se dar a mão à palmatória que o espaço escolhido foi adaptado para se tornar num local aprazível para a realização do evento.

O ambiente no sábado era de festa e naquele espaço todos esqueceram por momentos a crise, pois o queijo era de qualidade ( e a a pinga também…)

Todos os anos divulgo o evento junto de amigos e colegas de trabalho, assim ajudo à minha maneira a promoção desta região e porque acredito que é efectivamente um acontecimento que merece o destaque pela riqueza de sensações que nos proporciona.

Deixo-vos dois conselhos:

1) Divulguem todos vós na primeira pessoa estas iniciativas que servem para promover a nossa região.
2) Divulguem a qualidade dos nossos produtos oferecendo-os a alguém que não os conhece. Assim, estão a promover a nossa região e a estimular a economia local.

Até à próxima!

RCP

O Castelo esquecido

Fevereiro 7, 2009 by
Nem só de iluminação vive o castelo...

Nem só de iluminação vive o castelo...

Da janela do meu quarto olho o castelo de Palmela. Esta é a mesma imagem que após qualquer viagem, no regresso a casa, procuro insistentemente no horizonte. Não o faço porque não goste de viajar ou porque a viagem tenha sido má… Esta é a busca simbólica do conforto que só no nosso lar encontramos. O castelo de Palmela lá no alto anuncia-me ainda à distância que o meu aconhego fica já ali…

Este monumento histórico que tanto me enternece merecia, no entanto, melhor trato. Apesar de estar a um passo de distância de todos aqueles que habitam Palmela, pergunto-me: porque não passeiam os locais neste espaço de eleição?

Não quero fazer neste post uma resenha histórica do magnífico monumento que olha a vila sobranceiro. Quero perguntar a todos os palmelões há quanto tempo não visitam o Castelo de Palmela? Há quanto tempo não fazem um pequeno passeio, sozinhos ou acompanhados, até ao topo da vila e contemplam a beleza da paisagem que nos rodeia entre os vales do Tejo e Sado e o esplendor da Arrábida?

O espaço deste enorme património histórico é fantástico para que nos deixemos levar pelas asas dos nossos pensamentos quando estamos isolados, mas é também um local ideal para passear em família e descobrir em cada visita algo novo.

Julgo que este esquecimento colectivo da população de Palmela do seu bem mais emblemático contribui para algum do estado de abandono em que o nosso Castelo se encontra. Talvez seja uma surpresa para muitos de vós, mas sabiam que a visita ao alto da torre de menagem não é permitida há praticamente três anos? É verdade, a falta de manutenção do nosso património não assegura as condições de segurança para que os visitantes possam ascender ao ponto mais alto de Palmela!

Mas, os sinais de falta de conservação não se ficam por aqui… Em toda a muralha e paredes da fortificação é visível uma abundante flora, como se de um campo cultivado se tratasse. Esta imagem contrasta com a que conheço de outros monumentos europeus em que as pedras são limpas dos musgos que as habitam.

A área frente à muralha exterior e frente à Esplanada continua como sempre a conheci desde há trinta anos a esta parte, toda ela em roço…. Um espaço que acumula resíduos e que não possui as adequadas características para quem deseja parquear o carro para uma visita ao Castelo. Então e o que dizer da “piscina” que funciona como um aterro?

Enquadrado numa área geográfica em que a actividade turística pode ser uma alternativa à actividade industrial de multinacionais temporárias, estranho que as autoridades envolvidas não se preocupem com a valorização do património cultural que pode gerar riqueza através das receitas provenientes do turismo.

Apelo aos populares de Palmela que visitem o castelo e protestem contra a destruição silenciosa do nosso património! Reclamem a reabilitação do Castelo e da sua área envolvente!

RCP

Boas

Fevereiro 6, 2009 by

Boas!

Peço desculpa pelo ligeiro atraso… sim, qualquer coisa como meio ano para que me apresentasse ao mundo, no sítio dos cães de Palmela!

Os meus “cãofrades” têm tido toda a razão para me denunciarem o atraso e o desleixo, mas muitas outras coisas me têm ocupado… desculpas!

Reforço aqui e agora a ideia do Cão do Balholhas quando diz que a coisa não morreu! Este blog, tal como uma criança, necessita de tempo. Tempo para observar, tempo para aprender, tempo para crescer… Não querendo citar ninguém da cena política, permito-me dizer que nós andamos por aí!….

Até já!

RCP

Eles têm o Obama, nós temos o Zé Maria.

Janeiro 25, 2009 by

Esta semana que passou, além do nascimento do David, deu-nos a tomada de posse de Barack Hussein Obama. Independentemente da opinião sobre o trabalho feito pelo senhor que lá estava antes, esta cerimónia encerra algo de muito profundo. Ouvi muitas pessoas durante a semana a perguntarem “quem havia de imaginar, um negro como presidente dos Estados Unidos?”. A pergunta em si encerra um pouco de ignorância e falta de inteligência; já houve quem imaginasse isso, que nos anos sessenta, antes de ser assassinado, dizendo “I have a dream”. O próprio Obama, se não o imaginasse, não teria feito esta maratona. O máximo que se pode dizer é “quem haveria de pensar que o mundo estaria preparado para isto?”. Yes we can.

Os Estados Unidos são um grande exemplo para coisas boas e coisas más. No entanto, e acima de tudo, acredito que quando precisamos de olhar para cima, à procura de exemplos e inspiração, não precisamos de ver o que se passa lá fora. Os Estados Unidos têm o presidente Obama, Palmela tem o padre Zé Maria. Yes we can.

Nasceu um cachorrinho.

Janeiro 25, 2009 by

puppy

 

Temos um novo cachorrinho connosco. Chama-se David e nasceu na passada quarta-feira às 22:12. Eu estava com o pai quando isto aconteceu, e ainda bem que estava. Não que tenha feito nada de especial mas soube-me bem ter lá estado, a falar de temas comuns, como os recentes amigos enamorados ou os dias pós-parto, enquanto não chegava a enfermeira, com um ar de quem estava na fila da fruta do Jumbo, a perguntar se estava alguém da família. Isto até foi divertido, porque a senhora falou como se a sala estivesse cheia de gente, quando estávamos só nós os dois.

O gaiato é grande e rijo, e a mãe está a recuperar bem da cesariana; nós, os amigos, deixamos estes dias para os pais, avós e família, voltaremos lá a casa quando tudo estiver mais calmo. Palmela continua a rejuvenescer, o que é bom.